quarta-feira, 23 de março de 2011


A visita de Barack Obama ao Brasil foi  cercada de uma série de expectativas e simbolismo. O primeiro aspecto a se destacar é o momento vivido pelos Estados Unidos tanto em âmbito interno quanto externo. Internamente, os resquícios da crise econômica recente, fruto da má gestão governamental, em termos de regulação das atividades financeiras e da própria estagnação dos modelos produtivos locais,  não parece dar sinais de superação no curto prazo. E, se por um lado a eleição de Obama simbolizou uma retomada da esperança entre os cidadãos americanos, de outro, a aparente dificuldade da administração em implementar as mudanças prometidas durante a campanha aumenta a pressão sobre o presidente por resultados e dá combustível à oposição no questionamento das decisões tomadas.
Essas várias frentes de confrontação interna podem explicar o conservadorismo com o qual os Estados Unidos têm levado sua política externa, estratégia cautelosa para não abrir mais trincheiras no plano político interno. Diante desse quadro, o país busca renovar parcerias tradicionais e buscar novas e estratégicas, prova disso têm sido as manifestações do presidente Obama, que nega o papel de dar solução solitária de crises internacionais. O reforço, portanto, a determinadas instâncias multilaterais não surge da crença nas mesmas. Ao contrário, nasce da percepção de que novas aventuras internacionais aumentam as desconfianças com relação aos EUA e também fazem subir a pressão sobre o orçamento nacional, prejudicando o contribuinte e provocando resultados eleitorais indesejados.
A preocupação maior dos Estados Unidos parece ser, portanto, antes evitar que o sistema internacional aumente as pressões sobre a sua política externa do que, efetivamente, fazer avançar o rearranjo de forças. Isso explicaria a rejeição velada em considerar o Brasil uma liderança no Sistema Internacional. O Brasil reconhece a liderança americana e reclama de forma justa o reconhecimento por parte de Washington do protagonismo brasileiro que vem se consolidando nos últimos anos.
No imaginário dos tomadores de decisão do Brasil, reclames históricos como a necessidade de reformular organismos internacionais – como o Conselho de Segurança das Nações Unidas – são cada vez mais inadiáveis. Porém, por não ser uma potência global consolidada, o Estado Brasileiro, de certa forma, necessita do endosso de outros atores para suas pretensões. O fato de a Casa Branca apoiar ambições semelhantes de outros atores – caso do endosso de Obama a uma vaga para Índia como membro permanente no Conselho de Segurança, pode indicar que o Brasil ainda não é o parceiro estratégico no tabuleiro político que os EUA vêm buscando.
Conclui-se que os EUA ainda possuem bastante dificuldade em lidar com o surgimento de uma liderança continental que possui discurso autonomista. Isto, porém, não quer dizer que não haja um reconhecimento da crescente importância do Brasil em vários âmbitos das relações internacionais, particularmente no plano econômico e estratégico, principalmente do ponto de vista energético. Ciente disso Obama veio ao Brasil, para dar impulso material a uma relação que não pode viver de simbolismo.

Creomar Lima Carvalho de Souza* - É mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, analista político e professor de Relações Internacionais na Faculdade Ibmec/DF. Foi Visiting Faculty no Instituto de Ciência Política da University of Florida.

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