segunda-feira, 21 de março de 2011

Ministra classifica homicídios como manifestação de racismo

As altas taxas de homicídios de jovens negros são a manifestação mais perversa do racismo, avaliou a ministra de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros. Ela se reuniu com o movimento negro na tarde desta quinta-feira (17), no auditório Hermógenes Lima Fonseca da Assembleia Legislativa (Ales).
Diversos segmentos e correntes do movimento compareceram ao encontro, promovido pelo deputado Roberto Carlos (PT) e que contou também com a presença do deputado Claudio Vereza (PT). A recente divulgação do mapa da violência no Espírito Santo foi uma das questões mais comentadas pelo grupo.
O mapa mostrou que o número de homicídios em que as vítimas são jovens brancos caiu 6,6%. Em contrapartida, casos em que as vítimas são jovens negros aumentaram 49%. São índices referentes ao período entre 2002 e 2007. Luiza Bairros alertou que, bem antes da morte física, o jovem certamente passou por muitas “mortes” ao longo da vida.
Luiza Bairros enumerou a morte intelectual, onde o jovem se desinteressa por uma escola com a qual não se identifica. Sem contar as sucessivas “mortes” provocadas por frases ou atitudes racistas e preconceituosas. “O desafio é impedir essas mortes”, provocou a ministra.
Ela salientou que as ações afirmativas do Estado – como as cotas de ingresso nas universidades públicas – foram criadas visando atingir o jovem negro, justamente a parcela da população que “está sendo dizimada”. Muito antes de serem caso de segurança pública, os assassinatos de jovens passam pela questão racial, continuou.
O movimento negro, hoje, vê o Estado com descrença, prosseguiu a ministra, relacionando uma série de fatores que contribuem para esse distanciamento. “O Estado deve assumir como responsabilidade deter esse número (de homicídios), ou não vamos conseguir diminuir a descrença do movimento”, avisou.
Setorizado, o Estado trata as questões individualmente – saúde, educação, segurança – sem atinar que essas mesmas questões devem ser tratadas de forma unificada quando o assunto é o negro, disse Luiza Bairros.
Exemplificou que há mais casos de mortes maternas entre negras; entre as mães brancas vêm diminuindo. Então, é preciso lançar um olhar diferenciado sobre a mãe negra, enxergar que não é só uma questão de saúde.
A descrença também passa pelo reconhecimento de que, atualmente, a população negra ainda tem uma dependência muito grande do Estado, dos serviços que são públicos. E essa mesma descrença dá a dimensão da importância de um Ministério como o da Promoção da Igualdade Racial, continuou Luiza Bairros.
Adiantou que o Governo Federal criou o Sistema de Promoção da Igualdade Racial, que busca definir políticas públicas em todas as esferas – federal, estadual e municipal. Na maior parte do País o movimento negro, hoje, não tem a quem recorrer senão ao Ministério, quando deveria haver pontos de apoio nas comunidades, nos municípios, no Estado, ponderou a ministra.
Representantes das mais diversas correntes do movimento negro compareceram ao encontro. Também marcaram presença Luiz Carlos Silva dos Santos, da Comissão Executiva do Conselho Municipal do Negro de Vitória, o vereador Juarez Vieira (PSB) e a professora da Ufes e doutora em Educação, Nelma Gomes Monteiro.
Aída Bueno Bastos / Web Ales
http://africas.com.br/site/index.php/archives/9716

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